O apagão da mão-de-obra Tech no Brasil

O apagão da mão-de-obra Tech no Brasil

Não é segredo para ninguém que o Brasil atravessa um período de grandes dificuldades econômicas. Desde 2014 estamos andando de lado com nosso PIB, com forte retração até 2016, ligeiro crescimento entre 2017 e 2020, e o verdadeiro desastre de 2020 causado em sua grande parte pela pandemia do novo coronavírus.

Como costuma ser, o surgimento de novas vagas de trabalho  acompanhou nossa economia, com desempenho muito fraco durante toda a segunda metade da década passada  e com a taxa de desocupação alcançando o recorde de 14,7% no primeiro semestre desse ano, também impulsionada pela pandemia.

EVOLUÇÃO DO DESEMPREGO

Nesse cenário um mercado parece se destacar, se distanciar de todas as perspectivas ruins e, como na teoria do livro Antifrágil de Nassin Taleb, se beneficiar do caos gerado pela pandemia, o mercado de tecnologia e inovação.  Segundo pesquisa publicada no anuário “Mercado Brasileiro de Software – Panorama e Tendências 2021”, realizado pela ABES com dados do IDC, em 2020 o setor cresceu 22,9% e investiu cerca de R$ 200,3 bilhões (US$ 50,7 bilhões), se considerados os mercados de software, serviços, hardware e também as exportações do segmento.

Mesmo após tanto crescimento as perspectivas de crescimento para o futuro do mercado de tecnologia e inovação ainda são excelentes, puxadas principalmente pela consolidação de alguns hábitos como o trabalho remoto, popularização do e-commerce e pedidos de comida através de apps. O fôlego de crescimento para o setor parece estar longe de acabar com bilhões de reais sendo investidos, centenas de novas empresas sendo criadas e milhares de novas vagas de emprego surgindo. Mas parece estar aí uma das poucas ameaças à manutenção do crescimento deste mercado.

Segundo um estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação houve um crescimento de 132,5% no número de vagas na área de TI em 2020 quando comparado com 2019 e, das quase 500 mil vagas previstas para serem abertas em especialidades de tecnologia nos próximos 3 anos, apenas 160 mil devem ser preenchidas por profissionais egressos das universidades em cursos como Engenharia da Computação e Análise e desenvolvimento de sistema.

Os reflexos desse Gap entre vagas e profissionais já estão evidentes no mercado, com gigantes do mercado de tecnologia como Totvs e Locaweb com centenas de vagas em aberto há um bom tempo, e startups e empresas menores sofrendo muito para contratar novas pessoas para a área. Outra realidade fortemente impactada por esse gap são os salários de desenvolvedores, designers, analistas de sistemas… que historicamente já têm o dobro da média de  salários de outros profissionais, e ainda tiveram um forte aumento de seus vencimentos nos últimos anos com a média salarial alcançando R$ 9.364,21 em fevereiro deste ano, de acordo com a startup de recrutamento Revelo.

Não bastasse a competição interna por mão-de-obra de profissionais de tecnologia, a consolidação do trabalho remoto parece ter dificultado ainda mais as coisas, uma vez que empresas brasileiras concorrem com empresas estrangeiras na disputa por esses profissionais. Pagando em real, as organizações nacionais ficam em desvantagem. Além de que, para o profissional brasileiro, é interessante ter experiência internacional no currículo e receber por seus serviços em dólar ou euro.

“O mais interessante é que a maioria das posições de TI não requer formação superior. Os cursos de capacitação técnica são suficientes para posicionar os candidatos em uma boa oportunidade”, relata a diretora de marketing e experiência do candidato da Revelo, Juliana Carneiro. Diante desse cenário surgiram algumas escolas de olho em resolver esse problema como a Awari e Imã Learining Place, que pretendem formar profissionais de diversas especialidades em tecnologia, conectando alunos à profissionais que já atuem no mercado e estejam dispostos a compartilhar seus conhecimentos e experiências como professores e mentores (veja aqui)